quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Romãs


Não deixaremos o jardim morrer de sede.
Mali asperge com um pouco d’água as plantas.
Como quem rega? Como quem reza.

Cada vaso recebe cinco ou seis gotas d’água
e mais o amor de Mali, um amor moreno, sério,
de turbante branco.

Não deixaremos o jardim morrer de sede.
Tudo já está calcinado. Pedra, cinza, areia.
Mali sacode a água dos dedos:
sementes de vidro ao sol.

As plantas são magras como donzelas
e assim gentis.

E duas pequenas romãs amadurecem,
rosa e marfim,

num casto vestido de folhas foscas.

Cecília Meireles

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