quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Chorinho para a amiga

Se fosses louca por mim, ah eu dava pantana, eu corria na praça, eu te chamava para ver o afogado. Se fosses louca por mim, eu nem sei, eu subia na pedra mais alto, altivo e parado, vendo o mundo pousado a meus pés. Oh, por que não me dizes, morena, que és louca varrida por mim? Eu te conto um segredo, te levo à boate, eu dou vodca pra você beber! Teu amor é tão grande, parece um luar, mas lhe falta a loucura do meu. Olhos doces os teus, com esse olhar de você, mas por que tão distante de mim? Lindos braços e um colo macio, mas porque tão ausentes dos meus? Ah, se fosses louca por mim, eu comprava pipoca, saía correndo, de repente me punha a cantar. Dançaria convosco, senhora, um bailado nervoso e sutil. Se fosses louca por mim, eu me batia em duelo sorrindo, caía a fundo num golpe mortal. Estudava contigo o mistério dos astros, a geometria dos pássaros, declamando poemas assim: "Se eu morresse amanhã... Se fosses louca por mim... ". Se você fosse louca por mim, ô maninha, a gente ia ao Mercado, ao nascer da manhã, ia ver o avião levantar. Tanta coisa eu fazia, ó delícia, se fosses louca por mim! Olha aqui, por exemplo, eu pegava e comprava um lindo peignoir pra você. Te tirava da fila, te abrigava em chinchila, dava até um gasô pra você. Diz por que, meu anjinho, por que tu não és louca-louca por mim? Ai, meu Deus, como é triste viver nesta dura incerteza cruel! Perco a fome, não vou ao cinema, só de achar que não és louca por mim. (E no entanto direi num aparte que até gostas bastante de mim...). Mas não sei, eu queria sentir teu olhar fulgurar contra o meu. Mas não sei, eu queria te ver uma escrava morena de mim. Vamos ser, meu amor, vamos ser um do outro de um modo total? Vamos nós, meu carinho, viver num barraco, e um luar, um coqueiro e um violão? Vamos brincar no Carnaval, hein, neguinha, vamos andar atrás do batalhão? Vamos, amor, fazer miséria, espetar uma conta no bar? Você quer quer eu provoque uma briga pra você torcer muito por mim? Vamos subir no elevador, hein, doçura, nós dois juntos subindo, que bom! Vamos entrar numa casa de pasto, beber pinga e cerveja e xingar? Vamos, neguinha, vamos na praia passear? Vamos ver o dirigível, que é o assombro nacional? Vamos, maninha, vamos, na rua do Tampico, onde o pai matou a filha, ô maninha, com a tampa do maçarico? Vamos maninha, vamos morar em jurujuba, andar de barco a vela, ô maninha, comer camarão graúdo? Vem cá, meu bem, vem cá, meu bem, vem cá, vem cá, vem cá, se não vens bem depressinha, meu bem, vou contar para o seu pai. Ah, minha flor, que linda, a embriaguez do amor, dá um frio pela espinha, prenda minha, e em seguida dá calor. És tão linda, menina, se te chamasses Marina, eu te levava no banho de mar. És tão doce, beleza, se te chamasses Teresa, eu teria certeza, meu bem. Mas não tenho certeza de nada, ó desgraça, ó ruína, ó Tupá! Tu sabias que em ti tem taiti, linda ilha do amor e do adeus? tem mandinga, tem mascate, pão-de-açúcar com café, tem chimborazo, kamtchaka, tabor, popocatepel? tem juras, tem jetaturas e até danúbios azuis, tem igapós, jamundás, içás, tapajós, purus! - tens, tens, tens, ah se tens! tens, tens tens, ah se tens! Meu amor, meu amor, meu amor, que carinho tão bom por você, quantos beijos alados fugindo, quanto sangue no meu coração! Ah, se fosses louca por mim, eu me estirava na areia, ficava mirando as estrelas. Se fosses louca por mim, eu saía correndo de súbito, entre o pasmo da turba inconsútil. Eu dizia : Woe is me! Eu dizia: helàs! pra você… Tanta coisa eu diria que não há poesia de longe capaz de exprimir. Eu inventava linguagem, só falando bobagem, só fazia bobagem, meu bem. Ó fatal pentagrama, ó lomas valentinas, ó tetrarca, ó sevícia, ó letargo! Mas não há nada a fazer, meu destino é sofrer: e seria tão bom não sofrer. Porque toda a alegria tua e minha seria, se você fosse louca por mim… Mas você não é louca por mim... Mas você não é louca por mim...


Vinícius de Moraes

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Parabéns Jaco Pastorius e Lavoisier: 2 aninhos!

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
amada,
que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

Mario Quintana

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Clarice Lispector

“Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.”

“Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.”

Sim… são eles!

Yes – “Yours is no Disgrace”

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

domingo, 27 de outubro de 2013

Lou Reed (1942-2013)

Um dos maiores clássicos do Velvet Underground. RIP Lou.

Lou Reed – “A Walk On The Wild Side”

Dos Três Mal Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte

Cordel Do Fogo Encantado

sábado, 26 de outubro de 2013

Billy Elliot


Um grande filme. Uma trilha sonora de matar. Ao som do velho T-Rex.

T-Rex – “Cosmic Dancer”

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Manuel Bandeira

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
-Eu soubesse repor-
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Camões

“Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.


Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.


Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.


Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.”

De onde saiu Keith Emerson

The Nice – “America”

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

ditirambo

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

                                            Oswald de Andrade

terça-feira, 22 de outubro de 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi

                                           Oswald de Andrade

domingo, 20 de outubro de 2013

Um Brasileiro

Esse disco de Ney interpretando somente obras primas de Chico Buarque é um dos melhores álbuns de nossa MPB. Um exímio compositor na voz de nossa VOZ!

Ney Matogrosso – “A Banda”

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Você que me ouve

Você que me ouve, esteja onde esteja
Andando na rua, tomando cerveja
Guiando o seu carro, fumando um cigarro
Você, seja lá quem for
Você que me ouve, num rádio de pilha
Na velha vitrola, com sua família
No quarto sozinho, trocando um carinho
Você queira me entender, seja lá quem for
Eu tenho um amor pra lhe dar
Eu vivo a cantar, eu vivo a cantar esse amor
Pra ver você feliz
Você que me ouve, à toa na vida
Você que trabalha, você sem guarida
Pegando o seu bronze, num dia de chuva
Qualquer homem e mulher, seja lá que flor
Eu tenho esse amor pra lhe dar
Eu vivo a cantar, eu vivo a cantar esse amor
Pra ver você feliz

Nana Caymmi

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Na Rua do Sabão

Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!


O que me custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira.
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito.
Comprou o papel de seda, cortou-o com amor, compôs
[os gomos oblongos...
Depois ajustou o morrão de pez ao bocal de arame.


Ei-lo agora que sobe - pequena coisa tocante na
[escuridão do céu.
Levou tempo para criar fôlego.
Bambeava, tremia todo emudava de cor.
A molecada da Rua do Sabão
Gritava com maldade:
Cai ca balão!


Subitamente, porém, entesou, enfunou-se e arrancou
[das mãos que o tenteavam.
E foi subindo...
para longe...
serenamente...
Como se enchesse o soprinho tísico do José.


Cai cai balão!


A molecada salteou-o com atiradeiras
assobios
apupos
pedradas.


Cai cai balão!


Um senhor advertiu que os balões são proibidos
[pelas posturas municipais
Ele foi subindo...
muito serenamente...
para muito longe...
Não caiu na Rua do Sabão.
Caiu muito longe... Caiu no mar - nas águas puras
[do mar alto.

Manuel Bandeira

Antônimo

domingo, 13 de outubro de 2013

It's the same old thing as yesterday

Início dos anos 90… um voyage prata, um grupo de amigos… o resto é história… e da boa! Lembra? :-)

Police – “King of Pain”

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eu quero gozar no seu céu...

.., pode ser no seu inferno 
Viver a divina comédia humana onde nada é eterno 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Estrelinhas Vermelhas



       "Uma chuva de faíscas mergulhou num banho luminoso a cachorra Baleia, que se enroscava no calor e cochilava embalada pelas emanações da comida. Sentindo a deslocação do ar e a crepitação dos gravetos, Baleia despertou, retirou-se prudentemente, receosa de sapecar o pêlo, e ficou observando maravilhada as estrelinhas vermelhas que se apagavam antes de tocar o chão. Aprovou com um movimento a cauda aquele fenômeno e desejou expressar a sua admiração à dona.
       Chegou-se a ela em saltos curtos, ofegando, ergueu-se a ela em saltos curtos, ofegando, ergueu-se nas pernas traseiras, imitando gente. Mas sinhá Vitória não queria saber de elogios.
      - Arreda!
      Deu um pontapé na cachorra, que se afastou humilhada e com sentimentos de revolucionários"

Vidas Secas - Graciliano Ramos

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Kinski and Polanski

Tarsila

Posfácio



"O futuro do pretérito é o mais evidente sinal da frustração e da insularidade do ser humano miserável no universo romanesco de Graciliano Ramos. (...) As muitas passagens escritas no futuro do pretérito (...) nos remetem — pelo avesso — ao fulcro de um pessimismo basilar..."

Silviano Santiago

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sonhos

“We'll get higher and higher
Straight up we'll climb
We'll get higher and higher
Leave it all behind”

 

Van Halen – “Dreamns”

domingo, 6 de outubro de 2013

Saudades

Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?

Fernando Pessoa

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Frida

Travessia

Quando você foi embora fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar

Vou seguindo pela vida me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar
Sonho feito de brisa, vento vem terminar
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar

Milton Nascimento

terça-feira, 1 de outubro de 2013