terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Final de Año

Ni el pormenor simbólico

de reemplazar un tres por un dos

ni esa metáfora baldía

que convoca un lapso que muere y otro que surge

ni el cumplimiento de un proceso astronómico

aturden y socavan

la altiplanicie de esta noche

y nos obligan a esperar

las doce irreparables campanadas.

La causa verdadera

es la sospecha general y borrosa

del enigma del Tiempo;

es el asombro ante el milagro

de que a despecho de infinitos azares,

de que a despecho de que somos

las gotas del río de Heráclito,

perdure algo en nosotros:

inmóvil.

Jorge Luis Borges

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Medo da Eternidade

Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Clarice Lispector

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

sábado, 21 de dezembro de 2013

Fernando Pessoa

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. [...] Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.

Espanhola

Por tantas vezes
Eu andei mentindo
Só por não poder
Te ver chorando

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Sempre assim
Cai o dia e é assim
Cai a noite e é assim
Essa lua sobre mim
Essa fruta sobre o meu paladar

Nunca mais
Quero ver você me olhar
Sem me entender a mim
Eu preciso lhe falar
Eu preciso tenho que lhe contar

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Se for chorar
Te amo

Te amo Espanhola
Te amo Espanhola
Pra quê chorar
Te amo

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Sonhos e Iusões

“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos”

Fernando Pessoa

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cuide-se Bem

Cuide-se bem!
Perigos há por toda a parte
E é bem delicado viver
De uma forma ou de outra
É uma arte, como tudo...

Cuide-se bem!
Tem mil surpresas
A espreita
Em cada esquina
Mal iluminada
Em cada rua estreita
Em cada rua estreita
Do mundo...

Prá nunca perder
Esse riso largo
E essa simpatia
Estampada no rosto...

Cuide-se bem!
Eu quero te ver com saúde
E sempre de bom humor
E de boa vontade
E de boa vontade
Com tudo...

Prá nunca perder
Esse riso largo
E essa simpatia
Estampada no rosto...

Guilherme Arantes

Nos Foge o Tempo

Se mais que aéreas nuvens pressuroso,
Se mais que inquietas ondas inconstante,
Nos foge o Tempo; é inútil o saudoso
Pranto, dado a quem foge; eu incessante
Quero abarcar, e com ardor ansioso
Entranhar na alma cada alegre instante:
Pois que a vida é passagem, as lindas flores
Bom é colher na estrada dos Amores.

Filinto Elísio, in "Miscelânia"

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nada se Pode Comparar Contigo

O ledo passarinho, que gorjeia
D'alma exprimindo a cândida ternura;
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia;

O Sol, que o céu diáfano passeia,
A Lua, que lhe deve a formosura,
O sorriso da Aurora, alegre e pura,
A rosa, que entre os Zéfiros ondeia;

A serena, amorosa Primavera,
O doce autor das glórias que consigo,
A Deusa das paixões e de Citera;

Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
Tudo em tua presença degenera.
Nada se pode comparar contigo.

Bocage

sábado, 14 de dezembro de 2013

Blues com Groove

Isso é ser um guitarrista! SRV não precisa de 2000 notas por segundo para demonstrar do que a guitarra é capaz. A introdução é de muito bom gosto.

Stevie Ray Vaughan – “Couldn`t Stand the Weather” live in Texas

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Filinto Elísio

    Já vem a primavera, desfraldando
    Pelos ares as roupas perfumadas,
    E os rios vão, nas águas jaspeadas,
    Os frondífferos troncos retratando;

    Vão-se as neves dos montes debruçando
    Em tortuosas serpes argentadas;
    Pelas veigas, o gado, alcaifadas,
    A esmeraldina felpa vai tostando.

    Riem-se os céus, revestem-se as campinas;
    E a natureza as melindrosas cores
    Esmera na pintura das boninas.

    Ah! Se assim como brotam novas flores,
    Se remoça todo o orbe...das ruínas
    Dos zelos renascessem meus amores!

domingo, 8 de dezembro de 2013

The Playboy Festival

Weather Report:
Shorter, Wayne (sax)
Zawinul, Joe (keyboards)
Bailey, Victor (b)
Hakim, Omar (dr)
Rossi, Jose (perc)

Manhattan Transfer:
Hauser, Tim (voc)
Siegel, Janis (voc)
Bentyne, Cheryl (voc)
Paul, Alan (voc)

Weather Report and Manhattam Transfers – “Birdland”

sábado, 7 de dezembro de 2013

O homem que buscou paz e o fim da segregação racial na África do Sul

Nelson Rolihlahla Mandela (1918-2013)

Simple Minds – “Mandela Day” live

Coisas Pequenas

Nós dois tivemos muitos amores
Antes de cruzar um com o outro
E o bom de tudo isso é que nenhum dos dois
se arrepende de nada!
As outras vidas que nós dois vivemos
Foram treinamento e preparação
Pra esses momentos de felicidade
Que sempre estão à nossa disposição

Nós dois estamos muito felizes
como num caso de ressurreição
Já carregamos nossa cruz com sofrimento e dor
na poeira da estrada
Mas essas cruzes que nós carregamos
hoje já cumpriram a sua missão
E nós estamos descansados e leves
de corpo e de coração!

Obrigado pelas coisas pequenas
que ainda bem você não esqueceu!
Obrigado pelos dias de chuva
em que você não deixou chover
E obrigado por estar no mundo
E obrigado por cuidar do que é meu!

Muito obrigado e não esqueça nunca
Que eu continuo sendo sempre seu
Muito obrigado e não esqueça nunca
Que eu continuo sendo sempre seu!

Zé Rodrix

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Isso é de uma suavidade e beleza ímpar!

“And now the sun has broken through, it looks like it will stay
Just can't have you comin' home on such a rainy day”

Frank Sinatra – “The Train”

domingo, 1 de dezembro de 2013

Andarilho de Luz

Uma estrela caiu
E nos desejou
Um amor maior que os andes
Das geleiras azuis

A montanha acordou
E emaranhou
Viajante solitário
Avião e vapor

Lua lua luou
E gravou no céu
O seu disco flutuante
Minha vista nevou

Andarilho de luz
Veio me trazer
Un sendero luminoso
Gavião e condor

Nas trincheiras do sol
Todos os irmãos
Mesma trilha guerrilheira
Violão e cantor

Quem pintou amanhã
Paz de bom pastor
Sentimento quebra gelo
Coração e calor

Flávio Venturini

É uma questão de escolha…

Mafalda