quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Leave a pocketful of stones and not believe in other lives

 David Gilmour - "A pocketful of Stones" live

Sou todo coração

"Todo mundo sabe, o coração tem moradia certa, fica bem aqui no meio do peito. Comigo a anatomia ficou louca, sou todo coração"

Vladimir Maikovisky

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ian Fraiser Kilmister (Lemmy) - (1945-2015) - RIP


Que ele liderava o Motorhead todos sabem... então segue algo novo para muitos. Lemmy no Hawkwind. Space Rock de prima!

Hawkwind - "Silver Machine" live

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Som Nosso de Cada Dia

Não vou encher de palha teu ouvido meu querido
Só vim aqui pra dizer que o som nosso de cada dia
É feito pra alegrar a cidade e registrar
A mocidade de nosso temporal
A mocidade de nosso temporal

Eu quero botar pra fora minha dor poluída pelo século do desespero pero sí no tienes
Milhones no me vengas hablar de um novo amanhecer

Script For A Jester's Tear

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"So I'll hold our peace forever when you wear your bridal gown
In the silence of my shame the mute that sang the sirens' song
Has gone solo in the game, I've gone solo in the game
But the game is over
Can you still say you love me"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Tudo Sobre Você

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Queria descobrir
Em vinte e quatro horas tudo que você adora
Tudo que te faz sorrir
E num fim de semana
Tudo que você mais ama
E no prazo de um mês
Tudo que você já fez
É tanta coisa que eu não sei

Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

E até saber de cor
No fim desse semestre
O que mais te apetece
O que te cai melhor
Enfim eu saberia
Trezentas e sessenta e cinco noites bastariam
Pra me explicar por que
Como isso foi acontecer

Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

Queria descobrir
Em vinte e quatro horas tudo que você adora
Tudo que te faz sorrir
E num fim de semana
Tudo que você mais ama
E no prazo de um mês
Tudo que você já fez
É tanta coisa que eu não sei

Não sei se eu saberia
Chegar até o final do dia sem você

Por que em tão pouco tempo
Faz tanto tempo que eu te queria

Zélia Duncan e John Ulhoa

Chuva ao fim da tarde

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As gotas da chuva batem no telhado, porta e janela, com tanta pressa, como crianças nuas rogando abrigo.
Como não sou rio, nem sou terra, nem o meu corpo cheio de buracos é um pedaço de esponja, em suma, não passo de um animal que apodrece depressa caso vivesse na água.
Com o vento agora intenso, os dedos da chuva tornam-se mais grossos, avessos ao tempo estiado, insistindo em agarrar-se às goteiras do telhado.

Yao Feng

Felicidade

Denso como o mel, cada momento,
Raiando como o âmbar.
Há muito perdi a noção do tempo
E exilei o calendário.
Odeio a contagem do que for
E a ideia de poupança!
Meu anual crédito de amor
Dissipo numa andança.
Vera Pavlova

sábado, 19 de dezembro de 2015

Tudo é muito barato...

Som Imaginário - "Nepal"

Sábado

Sábado eu vou à uma festa
Vou levar meu violão
Vou cantando uma canção
Que eu decorei

Sábado eu vou à uma festa
Numa nuvem de algodão
E entre estrelas vou abrir meu coração

E vou encher de vaga-lumes teu cabelo,
Respirar o ar do céu, vou

Eu quero o céu e vou com guizos nos sapatos
Minha roupa em farrapos coloridos vou rasgar

E vou dançar entre os cristais azuis do tempo e esquecer
A terra longe, longe, longe
A se perder

Sábado eu vou ...

Som imaginário

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Sempre Perfectível

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"A língua, para mim, é instrumento: fino, hábil, agudo, abarcável, penetrável, sempre perfectível, etc. Mas sempre a serviço do homem e de Deus, do homem, de Deus, da Transcendência."

João Guimarães Rosa, em carta a Meyer-Clason.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

sábado, 12 de dezembro de 2015

Não a escrevi, mas dedico essa canção para você

Christian McBride - "I'll write a song for you"

Eclipse Oculto



Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan...

Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
O eclipse oculto
Na luz do verão...

Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama....

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...

Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Caetano Veloso

Todas as gerações representadas. Música é atemporal!

Paul McCartney - "Penny Lane" ao vivo

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

sábado, 5 de dezembro de 2015

Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais la ra ra ra

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar

Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus
Já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus
Sem mais la ra ra ra

Pela luz dos olhos teus
Eu acho, meu amor, e só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar
Precisa se casar, precisa se casar

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O melhor tocando uma das melhores de um dos melhores...

Jaco Pastorius - "Dona Lee" live

Brincadeira

Um claro dia de inverno... O frio é forte e seco de estalar, e Nádenka, que eu levo pelo braço, fica com os cachos das fontes e o buço no lábio superior orvalhados de prata cintilante. Estamos no cume de um morro alto. Diante dos nossos pés, até a planície, lá embaixo, estende-se um declive escorregadio e brilhante na qual o sol se mira como um espelho. Ao nosso lado está um trenó pequenino, forrado de pano vermelho-vivo.
- Deslizemos até embaixo,  Nadêjda Petrovna! - imploro eu. - Só uma vez! Garanto-lhe, ficaremos sãos e salvos!
Mas Nádenka tem medo. Toda essa extensão, desde as suas pequeninas galochas até o fim da montanha de gelo, se lhe afigura como um terrível abismo de profundidade imensurável. Ela fica tonta e perde o fôlego. Só de olhar lá para baixo, quando eu apenas lhe proponho sentar-se no trenó - que terá então se ela arriscar despenhar-se no precipício? Ela morrerá, enlouquecerá!
- Eu lhe suplico! - digo eu. – Não tenha medo! Compreenda, isso é fraqueza, é covardia!
Nádenka cede, finalmente, e eu vejo pelo seu rosto que ela cede com perigo da própria vida. Acomodo-a, pálida e trêmula, no trenó, sento-me, enlaço-a com o braço e junto com ela precipito-me no abis­mo.
O trenó voa como uma bala. O ar cortado chicoteia o rosto, silva nos ouvidos, bate, belisca raivoso, até doer, quer arrancar a cabeça dos ombros. A pressão do vento tolhe a respiração. É como se o pró­prio diabo nos tivesse agarrado com as suas patas, e, urrando, nos arrastasse para o inferno. Os objetos que nos cercam fundem-se num só longo risco, que corre vertiginoso. Parece, um instante mais, e esta­remos perdidos!
- Eu te amo, Nádia! - digo eu a meia voz.
O trenó começa a deslizar mais devagar, mais devagar, os uivos do vento e os zumbidos das lâminas do trenó já não são tão terríveis, a respiração já não é tão ofegante, e, finalmente, chegamos ao fim. Nádenka está mais morta do que viva. Está pálida, mal consegue respi­rar... Eu a ajudo a levantar-se.
- Nunca mais farei isto - diz ela, encarando-me com os olhos dilatados, cheios de terror. - Por coisa alguma do mundo! Por pouco não morri!
Logo depois, ela volta a si e já me fita com um olhar interrogador: terei sido eu quem disse aquelas quatro palavras, ou foi apenas uma alucinação dentro do zunido da ventania? Mas eu estou calado diante dela, fumando e examinando com atenção a minha luva.
Ela toma o meu braço e passeamos longos minutos diante do morro. O problema, visivelmente, não a deixa em paz. Foram pronunciadas aquelas palavras, ou não? Sim ou não? Sim ou não? É uma questão de amor-próprio, de honra, de vida, de felicidade, uma questão muito importante, a mais importante do mundo. Nádenka perscruta o meu rosto com olhares impacientes, tristes, penetrantes, responde atabalhoadamente, espera que eu fale. Oh, que jogo de emoções neste rosto encantador, que jogo! Vejo que ela luta consigo mesma, que precisa dizer alguma coisa, perguntar, mas não encontra palavras, está encabulada, amedrontada, embargada pela alegria...
-       Sabe duma coisa? – diz ela, sem olhar para mim.
-       O quê? – pergunto eu.
-       Vamos mais uma vez... deslizar pelo morro.
Subimos para o cume, pela escada. De novo faço Nádenka, pálida e trêmula, sentar no trenó, de novo nos despencamos no precipício medonho, de novo uiva o vento e zunem as lâminas, e de novo, quando o vôo do trenó está no auge do ímpeto e da zoeira, eu digo a meia voz:
- Eu te amo, Nádenka!

Quando o trenó se detém, Nádenka lança um olhar para o morro que acabamos de descer voando, depois perscruta longamente o meu rosto, escuta, atenta, a minha voz indiferente e calma, e toda ela, toda, até mesmo o regalo de peles e o capuz, toda a sua figurinha, exprime extrema perplexidade. E no seu rosto está escrito:
“Mas o que é que está acontecendo? Quem pronunciou aquelas palavras? Foi ele, ou foi engano dos meus ouvidos?”
Esta incerteza a perturba, a impacienta. A pobre menina não responde às minhas perguntas, franze a testa, está prestes a romper em choro.
-       Não preferes ir para casa? – pergunto eu.
-       Mas eu... eu gosto destas... descidas – diz ela, enrubescendo. Não quer deslizar mais uma vez?
Ela “gosta” destas descidas, e no entanto, sentando-se no trenó, ela, como das outras vezes, fica pálida, ofegante de medo, trêmula.
Descemos pela terceira vez, e eu vejo como ela fita o meu rosto, como observa os meus lábios. Mas eu aperto o lenço contra a boca, tusso, e quando chegamos ao meio do declive, deixo escapar:
- Eu te amo, Nádia!

E a charada continua charada! Nádenka se cala, está pensando... Acompanho-a para casa, ela procura andar mais devagar, atrasa o passo, espera sempre que eu lhe diga aquelas palavras. E eu vejo como sofre sua alma, como ela tem que se esforçar para não dizer:
“Não pode ser que tenha sido o vento! E eu não quero que tenha sido o vento quem falou aquilo!”
No dia seguinte de manhã, recebo um bilhetinho: “Se o senhor vai ao morro hoje, venha me buscar. N.” E desde essa manhã, comecei a ir com Nádenka ao morro, todos os dias e, voando encosta abaixo, no trenó, eu pronuncio, cada vez, a meia voz, as mesmas palavras:
- Eu te amo, Nádia!
Logo Nádenka acostuma-se a esta frase, como ao vinho e à morfina. Não  pode viver sem ela. É verdade eu voar montanha abaixo lhe dá medo, como antes, mas já agora o medo e o perigo adicionam um encanto especial às palavras sobre o amor, as palavras que, como dantes, constituem uma charada e oprimem a alma. São sempre os mesmos dois suspeitos: eu e o vento... Qual dos dois lhe declara o seu amor, ela não sabe, mas, ao que parece, isto já não lhe importa mais; não importa o vaso em que se bebe, importa ficar embriagada!
Um dia, fui até o morro sozinho; misturei-me à multidão e vejo como Nádenka chega até o sopé, como me procura com os olhos... E depois, timidamente, ela sobe os degraus... Ela tem medo de ir sozinha, oh, quanto medo! Está pálida como a neve, treme e vai, como se fosse para o cadafalso, mas vai, vai sem olhar para trás, com decisão. Pelo visto, ela resolveu, finalmente, tirar a prova: será que se farão ouvir aquelas palavras estranhas, quando eu não estiver junto? E vejo como ela, lívida, com a boca entreaberta de horror, toma assento no trenó, fecha os olhos, e, despedindo-se para sempre do mundo, o põe em movimento... “zzzzzz..." zunem as lâminas. Ouvira Nádenka aque­las palavras? Não sei... Vejo apenas como ela se levanta do trenó, exausta, fraca. E vê-se pelo seu rosto que nem ela mesma sabe se ouviu alguma coisa ou não. O pavor, enquanto ela voava morro abai­xo, roubou-lhe a capacidade de ouvir, de distinguir os sons, de enten­der...
Mas eis que chega o mês de março, primaveril... O sol torna-se mais carinhoso. O nosso morro de gelo escurece, perde o seu brilho e se derrete, afinal. Acabaram os passeios de trenó. A pobre Nádenka já não tem mais onde ouvir aquelas palavras, e nem há quem as pro­nuncie, pois o vento não se ouve mais, e eu me preparo para voltar a Petersburgo - por muito tempo, quiçá para sempre.
Uma vez, pouco antes de partir, uns dois dias, estava eu sentado, ao crepúsculo, no jardinzinho, separado do pátio onde mora Nádenka por uma cerca alta de madeira. Ainda faz bastante frio, debaixo do lixo, ainda há neve, as árvores ainda estão mortas, mas já cheira à primavera, e, preparando-se para a noitada, as gralhas fazem grande algazarra. Aproximo-me da cerca e espio pela fresta. E vejo como Ná­denka sai para os degraus e fixa o olhar tristonho e saudoso no firmamento... O vento da tarde sopra-lhe no rosto pálido e desanimado... Ele lembra-lhe aquele outro vento, que uivava lá no morro, quando ela ouvia aquelas quatro palavras, e seu rosto fica triste, triste, e pela face desliza uma lágrima... E a pobre menina estende os braços, como se implorando ao vento que lhe traga aquelas palavras mais uma vez. E eu, esperando o vento favorável, sopro a meia voz:
- Eu te amo, Nádia!
Deus meu, o que se passa com Nádenka! Ela solta um grito, sorri com o rosto inteiro e estende os braços ao encontro do vento, risonha, feliz, tão bonita.
E eu vou arrumar as malas...
Isto foi há muito tempo. Agora, Nádenka já é casada; casaram-na, ou foi ela mesma que quis - isto não importa - com um secretário da Curadoria, e hoje ela já tem três filhos. Mas os nossos passeios no morro e a voz do vento trazendo-lhe as palavras "eu te amo, Náden­ka", não foram esquecidos. Para ela, isto é hoje a mais feliz, a mais comovedora e a mais bela recordação da sua vida...

Mas eu, hoje, que estou mais velho, já não compreendo mais, para que dizia aquelas palavras, porque brincava...

A. Tchekhov

domingo, 29 de novembro de 2015

Jaco - o filme


Todo o meu canto sai do meu coração

Toni Tornado = "Me libertei"

Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A vida ensina e o tempo traz o tom pra nascer uma canção



"Quero acordar de manhã
Do teu lado
E aturar qualquer babado
Vou ficar apaixonado
No teu seio aconchegado
Ver você dormindo
E sorrindo
É tudo que eu quero prá mim
Tudo que eu quero prá mim..."


Cidade Negra

domingo, 22 de novembro de 2015

Soneto

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Pálida à luz da lâmpada sombria, 
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada, 
Entre as nuvens do amor ela dormia! 

Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada! 
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia! 

Era a mais bela! Seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo! 
Por ti - as noites eu velei chorando, 
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Augusto dos Anjos

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Minha Namorada

Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser

Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber por quê

Porém, se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer

Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois

Vinícius de Moraes

domingo, 15 de novembro de 2015

O azar é somente seu. Estou feliz e não abro mão :-)

"Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesmo nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é."
— João Guimarães Rosa, no livro “Grande Sertão: veredas”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

domingo, 1 de novembro de 2015

sábado, 31 de outubro de 2015

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

sábado, 24 de outubro de 2015

Lágrima de Amor

Eu te amo
por toda terra e todo azul
não entendo
a violência em que vais
só na minha cama
eu vejo aquela estrela que nos chama
deixo-me arder
como se amanhã já fosse nunca mais
o milagre
já é estar aqui pra ser
nenhum halley
é mais brilhante do que nós
o mistério
do sol de primavera lá da serra
lágrima de amor
que nenhum de nós jamais chorou

E você não precisa chorar
não precisa ficar como está
se amar é uma coisa normal
entre nós

Amo
mas não entendo o que és
oceano
montanha e água das marés
terra preciosa
um tom de céu abrindo-se em rosa
vai amanhecer
mais uma promessa a fazer
eu te amo
como se chama tua cor
cada dia
abrindo o véu de nossa dor
luz e drama
o rio que passou agora é lama
lágrima de amor
que nenhum de nós jamais chorou

E você não precisa chorar
não precisa ficar como está
se amar é uma coisa normal
entre nós

Beto Guedes

Coisa finíssima!

Milton Nascimento e Wayne Shorter - "Lilia" ao vivo

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

É o melhor que eu posso fazer por você


Al Jarreau - "Your Song" live

Os Justos

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Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

Jorge Luis Borges - in "A Cifra"