domingo, 27 de setembro de 2015

Sonho Cristalino

"Come down with fire, I want to love you
Want to take you into my heart
We'll cruise the star ways
And from the moment that we touch
Our love turns into a crystalline dream

Fly where your dreams go
With open eyes it's the dawn and you're alive
No time or space here, I walk in castles of gold
Our love turns into a crystalline dream"

S.G.

Tira a Mão

Tira a mão do meu ombro não sou teu irmão 
Eu não quero mais papo vê se tira a mão 

Tira-se, retira-se, tira daqui 
Não entendo essa língua 
Não entendo não 

É você quer brigar tira a mão 
Diz que é bom lutar pra ver se tira a mão 
Não quer me aceitar tira a mão 
Diz que tô errado vê se tira a mão 
Você quer brigar tira a mão 
Diz que é bom lutar pra ver se tira a mão 
Não quer me aceitar tira a mão 
Diz que tô errado, tô não 
Mas tira a sua presença se manda de vez 
Vou falar francamente não vou com você 

Tira-se, retira-se, tira daqui 
Não entendo essa língua 
Não entendo não 

É você quer brigar tira a mão 
Diz que é bom lutar pra ver se tira a mão 
Não quer me aceitar tira a mão 
Diz que tô errado vê se tira a mão 

Você quer brigar tira a mão 
Diz que é bom lutar pra ver se tira a mão 
Não quer me aceitar tira a mão 
Diz que tô errado vê se tira a mão

Você quer brigar tira a mão

Marcos Valle

domingo, 20 de setembro de 2015

Humano Hum

Lavrar a palavra a pá,
Como quem prepara um pão.

Quando o mar virar sertão,
Nossa palavra será
Tão humana como o pão.

E o canto que soar um palavrão
Se mostrará como é:
Anjo de espada na mão.

Belchior

Roupa Nova

Todos os dias, toda manhã
Sorriso aberto e roupa nova
Passarim preto de terno branco
Pinduca vai esperar o trem

Todos os dias, toda manhã
Ele sozinho na plataforma
Ouve o apito, sente a fumaça
E vê chegar o amigo trem

Que acontece que nunca parou
Nessa cidade de fim de mundo
E quem viaja pra capital
Não tem olhar para o braço que acenou

O gesto humano ficou no ar
O abandono fica maior
E lá na curva desaparece a sua fé

Homem que é homem não perde a esperança, não
Ele vai parar
Quem é teimoso não sonha outro sonho, não
Qualquer dia ele pára

Assim pinduca toda manhã
Sorriso aberto e roupa nova
Passarim preto de terno branco
Vai renovar
A sua fé

Beto Guedes

Soneto XIII

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Via Láctea

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac

sábado, 19 de setembro de 2015

Quatro

As quatro luas
Na tua pele morna
Desenham meu sinal
Mistério de teus abismos, mulher
De todo amor poder vencer
O turbilhào de viver
Teus olhos claros são meu farol
As quatro cordas
Do instrumento choram
Exatas como o sol
Clareia o céu
A cada manhã
E um acorde faz nascer
O infinito querer
Bem
Teus olhos claros são meu farol
Estrada longa estrada
A me levar sempre embora
Nas quatro direções
Da rosa dos ventos
Tarde demais
Agora estou tão preso a ti
Meu corpo quer te levar
Teus olhos claros são meu farol
A nuvem pálida
No céu desses meus desejos
Encobre toda a paz
E põe no meu caminho quatro ilusões
Amar, viver, cantar e ser
O que eu não posso negar
Não
Teus olhos claros são meu farol

Beto Guedes

Clarice Lispector

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"Amo a língua portuguesa. (...)
Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida."

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vagabundo

Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso,
Nas noites de verão namoro estrela;
Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.

Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.

Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada...

Oito dias lá vão que ando cismado
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!...

Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.

O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.

Sinto-me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio;
Não creio no diabo nem nos santos.
Rezo a Nossa Senhora, e sou vadio!

Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

Álvares de Azevedo

domingo, 13 de setembro de 2015

Asas

Vim de muito longe
Caminhar não tem segredo
Eu trago a formação que vem do mato
Fundo horizontes
Me elevo contra o medo
E faço amanhecer
Todo azul que tem na terra
Pássaro de ouro a voar
Sei voar crio asas
Com o som
Destas cordas crio mundos
Para você se habitar

Beto Guedes

Não é meu, não é seu... é nosso!

Arthur Maia - "Nosso Samba" ao vivo

Nick Mason estava possuído

Pink Floyd - "A Saucerful of Secrets" live in Pompeii

Um dos vídeos mais legais já produzidos na época da guerra fria

Genesis - "Land of Confusion"

O Engenheiro

A luz, o sol, o ar livre 
envolvem o sonho do engenheiro. 
O engenheiro sonha coisas claras: 
Superfícies, tênis, um copo de água. 

O lápis, o esquadro, o papel; 
o desenho, o projeto, o número: 
o engenheiro pensa o mundo justo, 
mundo que nenhum véu encobre. 

(Em certas tardes nós subíamos 
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).

A água, o vento, a claridade, 
de um lado o rio, no alto as nuvens, 
situavam na natureza o edifício 
crescendo de suas forças simples.

João Cabral de Melo Neto

Cidadezinha qualquer

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Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

Drummond

domingo, 6 de setembro de 2015

Coração Numeroso

Foi no Rio.
Eu passava na Avenida quase meia-noite.
Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.
Havia a promessa do mar
e bondes tilintavam,
abafando o calor
que soprava no vento
e o vento vinha de Minas.

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver
(a vida para mim é vontade de morrer)
faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente
na Galeria Cruzeiro quente quente
e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro,
nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso.

Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas
autos abertos correndo caminho do mar
voluptuosidade errante do calor
mil presentes da vida aos homens indiferentes,
que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram.

O mar batia em meu peito, já não batia no cais.
A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu
a cidade sou eu
sou eu a cidade
meu amor.

Carlos Drummond de Andrade

Uma das 1001 para se ouvir antes de morrer

Metallica - "One" live

Bonitinha

Massive Attack - "Teardrop" live

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar