quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Clara "Wakeman" Izidro

Song Sung Blue

Song sung blue, everybody knows one
Song sung blue, every garden grows one
Me and you are subject to the blues now and then
But when ya take the blues and make a song
Ya sing 'em out again

Song sung blue, weepin' like a willow
Song sung blue, sleepin' on my pillow
Funny thing, but you can sing it with a cry in your voice
And before you know, it starts to feelin' good
Ya simply got no choice

(Song sung blue), everybody knows one
(Song sung blue), every garden grows one
Me and you are subject to the blues now and then
But when ya take the blues and make a song
Ya sing 'em out again

(Song sung blue), weepin' like a willow
(Song sung blue), sleepin' on my pillow
Funny thing, but you can sing it with a cry in your voice
And before you know, it starts to feelin' good
Ya simply got no choice

Neil Diamond

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Amor até o fim

Despina, Moon of Neptune

Amor, não tem que se acabar
Eu quero e sei que vou ficar
Até o fim, eu vou te amar
Até que a vida em mim resolva se apagar
Amor
É como a rosa num jardim
A gente cuida,a gente olha,
A gente deixa o sol bater pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar
Amor não tem que se acabar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem
Não tem que se apagar
Até o fim da minha vida eu vou te amar
Eu sei que o amor não tem que se acabar

Gilberto Gil

Demônio

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

As águas do mundo

Aí está ele, o mar, o mais ininteligível das existências não humanas. E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fez um dia uma pergunta sobre si mesmo, tornou-se o mais ininteligível dos seres vivos. Ela e o mar. Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões.
Ela olha o mar, é o que se pode fazer. Ele só lhe é delimitado pela linha do horizonte, isto é, pela sua incapacidade humana de ver a curvatura da terra. São seis horas da manhã. Só um cão livre hesita na praia, um cão negro. Por que é que um cão é tão livre? Porquê ele é o mistério vivo que não se indaga. A mulher hesita porque vai entrar.
Seu corpo se consola com sua própria exigüidade em relação a vastidão do mar porque é a exigüidade do corpo que o permite manter-se quente e é essa exigüidade que a torna livre gente, com sua parte de liberdade de cão nas areias. Esse corpo entrará no ilimitado frio que sem raiva ruge no silêncio das seis horas. A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora da manhã, ela não têm o exemplo de outros humanos que transformam a entrada no amr em simples jogo leviano de viver. Ela está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização. Nessa hora ela se conhece menos ainda do que conhece o mar. Sua coragem é a de , não se conhecendo, no entanto prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem.
Vai entrando. A água salgada é de um frio que lhe arrepia em ritual as pernas. Mas uma alegria fatal – a alegria é uma fatalidade – já a tomou, embora nem lhe ocorrera sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seus mais adormecidos sonos seculares. E agora ela está alerta, mesmo sem pensar, como um caçador está alerta, mesmo sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda- e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido.
O caminho lento aumenta as coragem secreta. E de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda. O sal, o iodo, tudo líquido, deixam-na por uns instantes cega, toda escorrendo- espantada de pé, fertilizada.
Agora o frio se transformou em frígido. Avançando, ela sobre o mar pelo meio. Já não precisa da coragem, agora já é antiga no ritual. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol quase imediatamente já estão endurecendo de sal. Com a concha das mãos faz o que sempre fez no mar, e com altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheia de água, bebe em goles grandes, bons. E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.
Agora está toda igual a si mesma. A garganta alimentada se constringe com o sal, os olhos avermelham-se pelo sal secado pelo sol, as ondas suaves lhe batem e voltam pois ela é um anteparo compacto. Mergulha de novo, de novo bebe mais água, agora sem sofreguidão pois não precisa mais. Ela é a amante que sabe que terá tudo de novo. O sol se abre mais e arrepia-a ao secá-la, ela mergulha de novo: está cada vez menos sôfrega e menos aguda. Agora sabe o que quer. Quer ficar de pé parada no mar. Assim fica pois. Como contra os costados de um navio, a água bate, volta, bate. A mulher não recebe transmissões. Não precisa de comunicação. Depois caminha dentro da água de volta à praia. Não está caminhando sobre as águas- ah, nunca faria isso depois que há milênios já andaram sobre as águas- mas ninguém lhe tira isso: caminhar dentro das águas. Às vezes o mar lhe impõe resistência puxando-a com força para trás, mas então a proa da mulher avança um pouco mais dura e áspera. E agora pisa na areia. Sabe que está brilhando de água, e sal e sol. Mesmo que o esqueça daqui a uns minutos, nunca poderá perder tudo isso. E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe – sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano.

Clarice Lispector

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Hélcio Aguirra–R.I.P.

Morre um dos melhores guitarristas de rock desse país. Aguirra era músico do grande Golpe de Estado. Perdemos um verdadeiro gigante do rock nacional.

“Abandonaram o posto
Trouxeram desgosto
Puseram uma lágrima no olhar
Explodiram um paraíso”

Hélcio Aguirra, guitarrista da banda Golpe de Estado

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Qualquer Dia

Nessa calma sertaneja
De quem sabe o que fareja
Eu te encontro qualquer dia
Eu te encontro qualquer dia

Já conheço os teus rastros
Já comi no teu prato
Já bebi tua cerveja
Eu conheço o teu cheiro
Eu te encontro qualquer dia
Ah! Eu te encontro qualquer dia

Logo quem me julga morto
Me esquecendo a qualquer custo
Vai morrer de medo e susto
Quando abrir a porta

Ivan Lins e Victor Martins

domingo, 12 de janeiro de 2014

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ciclo da vida

Hoje fomos visitar o túmulo de meu pai e de minha avó. Perto de onde eles estavam havia um pássaro muito barulhento profundamente incomodado com nossa presença. Olhando melhor percebemos que ao lado de um outro jazigo tinha um ninho com 4 ou 5 ovos. Conclusão óbvia: todo o estardalhaço feito pelo pássaro com nossa chegada tinha um motivo bem claro: a mamãe estava defendendo suas crias! Durante alguns minutos toda a tristeza e o sentimento de perda e saudade inerente àquela situação foram substituídos por uma alegria motivada pelo paradoxo morte e vida! Tentamos nos aproximar para tirar uma foto, mas a mamãe pássaro demostrou que pelas suas crias lutaria até a morte! MORTE!

Ao longe uma coruja observava tudo.

Ao nos afastarmos, o passaro, que fazia muito barulho e literalmente nos ameaçava vindo em nossa direção, foi embora. Quando estávamos dentro do carro eis que chega um casal e mais que depressa o pássaro retoma sua posição de defesa/ataque, voltando para perto do jazigo/ninho.

Acho que não preciso dizer mais nada.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Estrela Perigosa

Estrela perigosa
Rosto ao vento
Marulho e silêncio
leve porcelana
templo submerso
trigo e vinho
tristeza de coisa vivida
árvores já floresceram
o sal trazido pelo vento
conhecimento por encantação
esqueleto de idéias
ora pro nobis
Decompor a luz
mistério de estrelas
paixão pela exatidão
caça aos vagalumes.
Vagalume é como orvalho
Diálogos que disfarçam conflitos por explodir
Ela pode ser venenosa como às vezes o cogumelo é.
No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
como se me faltasse um dente na frente:
excrucitante.
Que medo alegre,
o de te esperar.

Clarice Lispector

domingo, 5 de janeiro de 2014

O Mais Feliz da Vida

Eu não tenho sono
Eu não tenho tempo
Eu só tenho olhos pra você
Há tempos eu não via
Página em branco
Força, redenção e amor

Isso por direito
Pro resto dá-se um jeito
Que venha a primavera agora
Faltava ousadia
Mas se rasga o peito
Acaba tudo em vermelho e lá fui eu

Eu não tive plano,
Eu não tive glória
Mas sonhei o seu melhor sonho
Tive sua mão
E agora sua mãe
Também quer ver o homem em mim

Já me vi tão triste
Tolo é quem insiste
Estar assim tão satisfeito
Faltava ousadia
Mas se rasga o peito
Acaba tudo em vermelho e lá fui eu

O mais feliz da vida
Sou eu
Com tudo exposto nas mãos

Eu, o mais feliz da vida
Sou eu
Com tudo exposto nas mãos
Com tudo exposto nas mãos
Com tudo exposto nas mãos
Com tudo exposto
Eu, o mais feliz da vida

ABMBDC

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector