sábado, 15 de setembro de 2012

A Morsa e o Carpinteiro

O sol brilhava sobre o mar,
Com raios certeiros, pujantes.
Aplicava sua melhor arte
A tornar as ondas coruscantes.
E isso era estranho porque
Batera meia noite pouco antes.
A lua brilhava mofina,
Porque pensava que o sol,
Depois que o dia termina,
Devia se retirar.
"É muita indelicadeza", dizia,
"Vir aqui me ofuscar."
O mar estava molhado; mais não podia estar.
A areia estava seca a não poder mais secar.
Nuvem, não se via uma só, porque
Não havia nenhuma no céu a flutuar.
Nenhum pássaro cortava os ares...
Pois não havia pássaros para voar.
A Morsa e o Carpinteiro
Caminhavam lado a lado.
Choravam copiosamente ao ver
O chão assim, tão de areia forrado:
"Se ao menos fizessem uma faxina," diziam,
"Isto poderia ficar em bom estado!"
"Se sete criadas com sete esfregões
Por um ano isto aqui esfregassem,
Acha possível", a Morsa perguntou,
"Que toda esta areia limpassem?"
"Duvido", disse o Carpinteiro
E uma lágrima sentida derramou.
"Ó Ostras, venham fazer um passeio!"
Disse a Morsa suplicante.
"Uma boa conversa, um belo recreio,
Pelas praias verdejantes:
Mas apenas quatro em cada volteio
Para as mãos lhes dar adiante."
A Ostra mais velha o relanceou
Mas a boca não disse palavra.
Deu apenas uma piscadela,
E a pesada cabeça meneou...
A sugerir: "Deixar a ostreira
Para flanar? Ai, isso não vou."
Quatro ostrinhas, porém, acorreram,
Muito sôfregas pelo regalo:
Vestidinho limpo, rosto lavado,
Sapatos nos trinques e rabo de cavalo.
E isso era estranho se bem pesado,
Porque tinham o coco rapado.
Quatro outras Ostras as seguiram
E depois mais, de par em par.
Por fim aos bandos chegaram,
E foi um não mais acabar.
Todas saltando na espuma das ondas,
E voltando à praia a bracejar.
A Morsa e o Carpinteiro
Andaram um bom estirão.
Depois descançaram numa pedra
Jeitosa que havia no chão.
Então as ostrinhas todas
Puseram-se em fila, de prontidão.
"É chegada a hora", disse a Morsa,
"De falar de muitas coisas:
De sapatos... e barcos... e vazas...
De repolhos... e reis... e lousas...
E por que o mar tanto ferve
E se os porcos têm asas."
"Só um minutinho", as Ostras gritaram,
"Antes da nossa conversa;
Estamos tão esbaforidas,
Viemos em tal correria!"
"Tem tempo!" disse o Carpinteiro,
Rindo, num gesto de galhardia.
"Um naco de pão", a Morsa disse,
"É o que vem a calhar;
Depois pimenta e vinagre
Não são de dispensar...
Já estão prontas, Ostrinhas queridas?
Vamos dar início ao jantar."
"Mas não vão nos jantar!" as Ostras gritaram,
Perdendo um pouquinho a cor.
"Após tanta gentileza,
Oh, é tão desolador!"
"É uma bela noite", disse a Morsa,
"Apreciam esta beleza?"
"Foram tão gentis conosco!
Não criaram um só embaraço!"
O Carpinteiro disse apenas:
"Corte-me mais um pedaço!
Minha fome é tamanha
Que todo este pão hoje eu traço."
"É uma vergonha", a Morsa disse,
"Lhes fazer uma falseta dessa,
Depois que as trouxemos de tão longe
E as fizemos andar tão depressa!"
O Carpinteiro disse só:
"Vamos à primeira remessa!"
"Choro por vocês", a Morsa disse.
"Tenho o coração contristado."
E entre soluços e lágrimas, foi
Puxando as graúdas p'ro seu lado.
Depois, levou um lenço aos olhos,
Que ainda estavam marejados.
"Ó Ostras", disse o Carpinteiro.
"Fizeram uma bela corrida!
Que tal correr de volta pra casa?"
Mas nenhuma resposta foi ouvida...
E não era de se estranhar, porque
Ostra por ostra tinha sido comida.

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