quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Um Conto Maravilhoso

O diabo e seus três fios de cabelo dourado

Um lenhador estava cortando lenha diante do castelo do rei, e do alto de sua janela a princesa o observava. Na hora do almoço ele sentou-se na sombra para descansar; nesse instante a princesa viu que ele era muito bonito e, apaixonada, mandou chamá-lo. Ao ver como a princesa era bela, ele também logo se apaixonou por ela. Estavam enamorados, mas logo chegou aos ouvidos do rei que a princesa estava gostando de um lenhador. Ao saber disso, o rei procurou a filha e disse: “Você bem sabe que seu noivo será aquele que trouxer os três fios de cabelo dourado da cabeça do Diabo, seja ele príncipe ou lenhador”. Mas, como até então nenhum príncipe tinha tido tamanha coragem para conseguir tal feito, o rei pensava que um simples lenhador não o conseguiria jamais. A princesa ficou muito triste, porque muitos príncipes já haviam morrido tentando pegar os três fios de cabelo dourado do Diabo. Mas, como não via saída, contou ao lenhador o que seu pai dissera. O lenhador não se abalou e disse: “Eu vou conseguir. Seja fiel a mim até eu voltar. Partirei amanhã de manhã”.

No dia seguinte, o lenhador partiu ao encontro do Diabo e chegou a uma cidade grande. Na entrada da cidade, o guarda lhe perguntou de qual ofício entendia e o que sabia fazer. “Tudo”, respondeu ele. “Se sabe tudo, então cure nossa princesa, que nenhum médico no mundo conseguiu curar.” “Quando eu voltar”, respondeu ele. Então seguiu adiante e, quando chegou a outra cidade, também lhe perguntaram o que sabia fazer. “Tudo”, disse ele. “Então responda: por que nosso belo poço do mercado secou?”, perguntou o guarda. “Quando eu voltar”, respondeu, e seguiu viagem. Então encontrou uma figueira que estava secando, e ao lado dela um homem lhe perguntou o que sabia fazer. “Tudo”, respondeu. “Então responda: por que a figueira está morrendo e parou de dar frutos?” “Quando eu voltar”, respondeu o lenhador. Continuou andando e chegou a um rio onde havia um barqueiro, que o levou à outra margem e lhe perguntou o que sabia fazer. “Tudo”, respondeu ele. “Então me diga quando serei substituído e outro virá atravessar as pessoas para o outro lado.” “Quando eu voltar.”

Logo adiante, o lenhador chegou à entrada do inferno. Tudo estava escuro e sinistro, mas o Diabo não se encontrava em casa, apenas a mulher dele. O lenhador então se dirigiu a ela e disse: “Bom dia, senhora Diabo, eu vim até aqui para pegar os três fios de cabelo dourado que estão na cabeça do seu marido. Também quero saber por que uma princesa não consegue se curar, por que um poço fundo do mercado secou, por que uma figueira parou de dar frutos e por que o barqueiro não pode parar de trabalhar”. A mulher levou um susto e respondeu: “Se o Diabo voltar e encontrar você aqui, vai devorá-lo, e os três fios dourados, então, você jamais vai conseguir. Mas você é tão jovem e, como estou com pena de você, vou ver se consigo salvá-lo”. Assim, ela mandou o lenhador se esconder embaixo da cama, e, mal ele havia se deitado lá por um tempinho, o Diabo chegou em casa. Ele então começou a tirar a roupa, cumprimentou a mulher e perguntou a ela se estava tudo bem. Depois disse, desconfiado: “Estou sentindo, estou sentindo cheiro de carne humana, vou verificar!”. “Mas o que você pensa que está cheirando?”, disse a mulher. “Que cheiro é esse que você está sentindo? Você está resfriado e seu nariz sempre fica impregnado de cheiro de carne humana. Não vá me desarrumar a casa, acabei de varrer tudo.” “Só quero ficar quietinho, estou cansado hoje, mas acho que você está me negando esse bocado.”

O Diabo então se deitou na cama e mandou que a mulher também se deitasse ao seu lado. Não demorou a pegar no sono e começou primeiro a soprar, depois a roncar baixinho, e logo o ronco ficou tão forte que as vidraças tremiam. Quando a mulher viu que ele estava dormindo pesado, agarrou um dos fios dourados, arrancou-o e jogou-o embaixo da cama para o lenhador. O Diabo acordou, gritando: “Mas o que você está querendo, mulher? Por que está arrancando meu cabelo?”. “Ai, sabe, eu tive um pesadelo e fiquei com muito medo”, respondeu ela. “Mas o que você estava sonhando?” “Eu sonhei com uma princesa que estava morrendo de uma doença que médico algum conseguia curar.” “E por que não tiram a rã branca que está debaixo da cama dela?”, e com isso ele virou para o outro lado e voltou a dormir. Quando ouviu seu ronco, a mulher arrancou o segundo fio de cabelo dele e o jogou debaixo da cama. O Diabo se levantou num salto: “Mas o que é isso? Está ficando louca? Não para de arrancar meu cabelo!”. “Ai, meu marido, eu sonhei que estava em frente a um grande poço do mercado, as pessoas se lamentavam porque não havia água e me pediam ajuda, e quando olhei para dentro era tão fundo que senti uma tremenda tontura, então tentei me segurar e por isso me agarrei ao seu cabelo”, respondeu a mulher. “Bastava você dizer a eles para tirarem a pedra branca que está no fundo, agora me deixe em paz com esses seus sonhos.” Então ele se deitou e voltou a roncar como antes. A mulher então pensou: Você tem de arriscar uma vez mais, e, num ímpeto de coragem, arrancou o terceiro fio de cabelo dourado do marido e o jogou embaixo da cama. O Diabo acordou furioso e já estava pronto para fazer uma maldade, quando a mulher o acalmou e o beijou, dizendo: “São os sonhos ruins! Um homem me mostrava uma figueira que estava secando e se queixava de que ela não dava mais frutas, então eu quis sacudir a árvore, para ver se caía alguma fruta, e segurei no seu cabelo”. “Sacudir a árvore não teria adiantado, porque tem um rato branco que fica roendo suas raízes e, enquanto não o capturarem, ela estará perdida. Se o rato for morto, a árvore voltará a ficar verde e carregada de frutas. Agora, pare de me atormentar com esses seus sonhos. Eu quero dormir e, se você me acordar mais uma vez, eu vou dar uma bofetada na sua orelha.” A mulher temia a ira do Diabo, mas o pobre lenhador ainda precisava saber de uma coisa que só o Diabo sabia. Então, ela cutucou o nariz do marido e puxou-o para cima. O Diabo saltou da cama feito louco e deu-lhe uma bofetada tão forte na orelha que esta chegou a estalar. A mulher começou a chorar e disse: “Quer que eu caia na água? Um barqueiro me atravessou pela correnteza do rio, e quando chegamos à outra margem o barco bateu, fiquei com medo de cair e tentei me segurar no tronco onde se prende a corrente, aí sem querer agarrei o seu nariz”. “Por que você não prestou atenção? Ele faz isso sempre.” “O barqueiro se queixou para mim de que estava cansado porque ninguém vinha substituí-lo no trabalho e que seu trabalho não tinha fim.” “Ele precisa parar a primeira pessoa que quiser atravessar, entregar-lhe o remo nas mãos e dizer a ela que o entregue ao próximo que vier, assim terá ajuda e será liberado do trabalho. Mas os seus sonhos são curiosos, porque o que acontece com o barqueiro é verdade e todo o resto também. Agora, trate de não me acordar mais, porque senão eu não sei do que sou capaz de fazer com você. Já deve estar quase amanhecendo e eu ainda quero dormir.”

Depois que o lenhador ouviu tudo e o Diabo voltou a roncar, ele agradeceu à sra. Diabo e partiu. Quando encontrou o barqueiro, este logo lhe pediu a resposta. Então o lenhador disse: “Antes me leve à outra margem”. Ao chegarem do outro lado, ele explicou: “Você tem de entregar o remo ao primeiro que aparecer querendo atravessar, e este deve fazer o trabalho até que outra pessoa apareça para rendê-lo”. Depois disso, ele encontrou o homem da figueira que não dava frutos e disse-lhe: “Mate o rato branco que está roendo as raízes e ela voltará a dar frutas como antes”. “O que quer como recompensa?”, perguntou o homem. “Um regimento de infantaria”, respondeu o lenhador. Mal ele terminou a frase, um regimento já marchava atrás dele. Assim vai indo muito bem, pensou o lenhador, que logo chegou ao poço que havia secado e disse: “Tirem a pedra branca que está no fundo”. Então um homem desceu até o fundo e tirou a pedra. Assim que ele retornou, o poço voltou a se encher até a boca com água muito límpida. “O que quer como recompensa?”, perguntou o prefeito. “Um regimento de cavalaria”, respondeu ele. E, quando o lenhador passou pela entrada da cidade, um regimento de cavalaria já estava galopando atrás dele. Então ele chegou à outra cidade, onde a princesa estava doente e desenganada pelos médicos. “É só matarem a rã branca que está escondida debaixo da cama dela”. Assim que tiraram a rã, a princesa começou a melhorar e logo estava recuperada e corada. “O que quer como recompensa?”, perguntou o rei. “Quatro carroças carregadas de ouro”, respondeu o lenhador.

Finalmente o lenhador voltou para casa, seguido por seus regimentos de infantaria e de cavalaria e com quatro carroças carregadas de ouro, e levando consigo ainda os três fios de cabelo dourado. Mandou que todos aguardassem em frente ao portão de entrada do castelo, mas, se ele desse um sinal, deveriam entrar rapidamente. Então procurou sua amada princesa, entregou os três fios de cabelo do Diabo ao rei e pediu a ele que cumprisse sua promessa e lhe entregasse a mão da princesa. O rei ficou muito surpreso e alegou que os três fios certamente tinham seu valor, mas teria de repensar se entregava a princesa. Ao ouvir isso, o lenhador foi até a janela e assobiou. Imediatamente, os regimentos de infantaria e de cavalaria e as quatro carroças com o ouro marcharam adiante e se apresentaram. “Senhor rei”, disse o lenhador, “olhe aqui, estes são os homens que eu trouxe comigo e aquela é minha riqueza, nas carroças carregadas de ouro. Não gostaria de me entregar a mão da princesa?” O rei ficou surpreso e disse: “Sim, de coração”. Assim, os dois se casaram e viveram felizes.

Por isso, quem não teme o Diabo pode arrancar-lhe os cabelos e conquistar o mundo.

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