quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma Mendiga Ruiva

Branca de cabelos ruivos,
Cujos furos do vestido
Deixam ver a pobreza
E a beleza,

Para mim, poeta pobre,
Teu jovem corpo doente,
Tão farto de sardas,
Tem sua doçura.

Andas mais elegante
Que rainha de romance
Seus coturnos de veludo
Teus grossos tamancos.

Em vez de trapos curtos,
Qu'um soberbo traje de côrte
Vista longas dobras trêmulas
Até os teus pés;

Em vez de meias poídas,
Que para os olhares vis
Sobre tua perna reluza
Um punhal de ouro;

Que os nós mal apertados
Desvelem ao nosso pecar
Teus belos seios, radiosos
Tais duas pupilas;

E para te desnudar
Teus braços se fazem prestes
E sacodem assim teimosos
Os dedos travessos,

Pérolas as mais belas
Sonetos do mestre Belleau
Pois teus galantes cativos
Sempre ofereçam,

Cortejo de rimadores
Te dediquem seus primores
E contemplem tua sandália
Sobre o degrau,

Amantes ao acaso, pagens,
Senhores e vários Ronsard
Espiando para o prazer
Teu fresco reduto!

E contarás em teu leito
Mais beijos do que lírios
E deixarás sob tuas leis
Mais que um Valois!

- Contudo, vais esmolando
Algum velho trapo caído
Na soleira de um Véfour
Rua à fora;

Vais espiando de soslaio
As jóias de bijouteria
As quais não posso, perdoa!
Te oferecer.

Vem então sem enfeites,
Perfume, pérolas, diamante,
Em tua magra nudez,
Ó belezura!

Baudelaire

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