terça-feira, 26 de novembro de 2013

Luis de Góngora

Ora que a competir com teu cabelo

Ora que a competir com teu cabelo 
ouro brunhido ao sol reluz em vão, 
e com desprezo, no relvoso chão,
vê tua branca fronte o lírio belo; 

ora que ao lábio teu, para colhê-lo,
se olha mais do que ao cravo temporão, 
e ora que triunfa com desdém loução 
teu colo de cristal, que luz com zelo;

colo, cabelo, fronte, lábio ardente
goza, enquanto o que foi na hora dourada
ouro, lírio, cristal, cravo luzente 

não só em prata ou víola cortada 
se torna, mas tu e isso juntamente 
em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada. 

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